Caro Sr. Futuro Presidente
Dirijo-me a si, esperando que não seja o Sr. Anibal ou Sr.José Manuel. Se assim for, considere este apelo um engano e ignore. É que nesse caso, também eu terei sido enganada, mais uma vez.
Ora bem, Sr. Presidente
"I used to think " que este devia ser o melhor país do mundo para se viver. Em 35 anos de vida, foi sempre este o meu pensamento. Clima moderado, sismos esporádicos (mas com boa regulamentação para a construção anti sísmica), mar, serra, sol. Pequena dimensão, chega-se de uma ponta à outra num instante. Boa comida ( dispenso a boa bebida e o bom azeite), paraíso para estrangeiros reformados e turistas endinheirados.
Alguma visão( histórica!), e espírito desenrascado e criativo.
Sem guerra aberta com nenhum pais. Pais aconhedor e hospitaleiro, generoso para com os desfavorecidos. Com sistema de educação, saúde e segurança social abrangente e tendencialmente gratuito ( sim, que mal há de pagar em função das possibilidades, pergunto eu?).
Pensava eu...
De famílias modestas, consegui tirar um curso superior em escola pública, mas longe de ser proporcional aos rendimentos..
Descobri que as bolsas de estudo gostavam de truques dos quais não dispunha, e como tal os 5.100$00 da altura não davam sequer para a cantina. Mas pronto. Fez-se, e não passei fome.
Consegui logo emprego, mas em 1998, "era outra louça"...um bom curso era garantia de emprego, afinal!
Descobri rapidamente que os empregos também têm outro lado, e que horas extras não implicam remuneração extra, que há patrões capazes de tudo, que há trabalhadores tão vulneráveis que se sujeitam a tudo. Mas isto pensava eu nessa altura, e dizia para mim própria, "tens 23 anos, és inexperente e ingénua!". Mas de noite não dormia e pensava "tens 23 anos e não podes admitir isto, nem a ti, nem aos outros!". E daí criei o hábito de discutir, debater, criticar, sugerir, tentar propor soluções para melhorar, não ser ovelha. Aprendi a admirar a minha perseverânça e a minha opinião. Aprendi que sou única, e que esta singularidade se obtem a aceitar as minhas opiniões, ideias, gostos e opções, sem me sentir inibida pelo que os outros possam pensar. Ainda que o preço a pagar seja caro!
E aí fui eu, passo a passo, caminhando, levando nas orelhas, mas sendo fiel a mim, aos meus princípios e origens, e mesmo quando a vida me deu para trás, levantei a cabeça e recomecei.
Diria que sou uma cidadã respeitável, modesta mas remediada, com um percurso certinho, escolar, profissional, familiar, tudo como mandam os livros. Marido, filhos, trabalho, religião. Tudo tudo como vem nas instruções.
mas de há uns tempos para cá, quero fugir daqui.
Quero ir para um país onde tudo seja mais simples, onde o telefone toque menos, se ande mais devagar, onde haja menos auto estradas. Onde esteja tudo por fazer, mas que não seja preciso negar a vida para trabalhar. Onde o trabalho seja feito por gosto, nas horas próprias, e ainda sobre trabalho para amanhã, e o tempo para familia não seja um luxo.
Quero ir para um pais onde possa usar colheres de pau, e não sejam precisas mil formalidades para abrir um negócio, onde não se viva com medo de um nódoa ou de um micróbio, onde se possa começar do zero, sem nada e ser feliz.
Ando a sonhar com África!
E depois penso, filhas, educação, saúde...elas merecem melhor do que África
E penso de novo, filhas, família, esperança, sustentabilidade, elas merecem melhor do que Portugal
E penso de novo...
E volto a pensar...
Ajude-me a tomar uma decisão...dê-me uma boa razão para eu não querer fugir. Ou muitas!
Nivelamento de ordenados para níveis Europeus. Estamos na Europa, certo!
E nivelamento, quer dizer nivelamento, atenuação da curva de disparidades. Para podermos pagar como Europeus.
Incentivos às empresas do sector primário e secundário. Menos importação. Igualdade de oportunidades no acesso à produção de energia de fontes renováveis. Facilidade na auto geração.
Limitação da especulação económica. Colapso da bolsa de desvalores. Desvalorização das "acções". Valorização do trabalho produzido.
Chicote nos bancos e nos gestores públicos. Sim a remuneração justa. Fim de regalias. TODAS. E quem não gostar, tente arranjar melhor no privado.
Moralização do sector de produção, para que os pequenos empresários que tentar sobreviver aos dias de hoje não sintam que trabalham apenas para os impostos ( OH! se eu sei do que estou a falar!!!). Para que os funcionários não públicos acreditem que, no fim do mês, o ordenado chegue. ( Chegue e entre na conta do banco e chegue até ao fim do mês).
Reformular a função pública, para que não simplique serviço aos funcionários público mas sim ao público em geral. Cortar em todos aqueles cus que nada fazem excepto dizer que o "sistema" não deixa, ou que está em baixo, e que não têm capacidade de analisar um problema e resolvê-lo, para além do "sistema". Cortar no número de chefes de chefes dos chefes dos chefes, que nunca podem decidir porque há sempre alguém acima.
Cortar nos cursecos da treta e investir em cursos gerais e úteis, dos quais se parta para especializações. Reintroduzir e reforçar a educação tecnológica. Voltar aos "trabalhos manuais", com carpintaria, serralharia, olaria,agricultura, costura, tecelagem, puericultura, economia doméstica, já que o português e matemática não são garantia de competência.
Investir no ensino geral. Contratar mais e melhores professores. Reformular as escolas, mas POR FAVOR! cortar nas barbaridade de dinheiro que se tem utilizado em fazer escolas " a la architecte", com materiais facilmente perecíveis, soluções arquitectónicas caríssimas, altamente dependentes de energia, de alto custo de manutenção.
Deixe lá as "merdices" dos RCCVs e CNOs, só para a estatística e crie um sistema credível de formação, independente do canudo que se leva para casa...
Ensine-se para o empreendedorismo. Para a liberdade de pensamento! Para a grandeza do coração e da alma!
Trocar quantidade por qualidade na política. Limitar a produção avulsa de legislação, sem integração com as anteriores leis e apagar todo o lixo que entretanto se produziu e que constitui e é sempre motivo de excepção. Produzir leis que qualquer pessoa possa lêr e perceber, sem ambiguidades nem buracos. Ter em atenção as Directivas Europeias e não ser cego a transpor tudo e mais alguma coisa. Transformar as prisões em fábricas. Acelerar a justiça, punindo, efectivamente, que comete crimes contra pessoas, bem e estado. Que vão produzir para a cadeia. Produzir a sua alimentação, os seus serviços, e exportar para fora dos muros, ao serviço da população carenciada.
E outras coisas...Dê.me boas notícias. Quanto ao gasóleo, por exemplo...