Há meses que nos conhecíamos. Ele era aquele rapaz giro, com a bicicleta vermelha que namorava com aquela rapariga gira, a mais fashion da escola...
Há semanas que S e H conspiravam um encontro entre nós os dois. Afinal, ele tinha sido "deixado".
Às vezes , davamos com um a olhar o outro.
Numa 4ª feira, em que pensava "É desta", tinhamos teste de inglês, e eu fui de minisaia, casaco cor de rosa, e pela primeira vez, usei maquilhagem nos olhos, sem ser Carnaval. Nada. Nada. Nada
Mas nessa tarde, desapareceu da minha carteira uma foto tipo passe...
Na 5ª à noite, a minha irmã só me disse, "ó lhe telefonas, ou ligo eu!" e cumpriu a ameaça, e sem jeito nenhum, tive dúvidas de matemática, tantas, que ele concordou encontra-se comigo no dia seguinte de manhã.
E aí fui eu , mais cedo para a escola, de saia de pregas ao xadrez, camisola fofinha branca, sapato de salto alto, e um rabo de cavalo encaracoladinho. Esqueçamos a peripécia dos colants que se romperam e eu ter de ir telefonar a uma amiga para me trazer outros...
Quando ele apareceu, de blusão de cabedal, caiu-me tudo... e foi ali, no recreio da Calazans Duarte, que fazem hoje 19 anos, nos beijámos pela primeira vez.
No livro de Filosofia, adaptei a estátua O Beijo, de Rodin. Vesti-a, é claro!
No ar, ficou o espanto dele: "vamos ter que falar sobre esse beijo"
Continuamos a falar.
Diz-me ele que, 19 anos mais tarde, o meu beijo é bem melhor do que foi nessa 6ª feira de manhã, ao soar do toque da campaínha, para a aula de matemática.
Quando a minha mãe me foi buscar à escola, no fim do dia, olhou para mim, e imediatamente descobriu que a filhinha mais velha, de 16 anos, tinha "visto um passarinho em ramo verde"! Foi exactamente isto que ela me disse. E guardou segredo, durante mais uns meses...