Quando era pequena, sempre ouvi dizer das intrigas familiares que, nessa altura envolviam os irmãos da minha avó materna ou umas primas do meu pai. E sempre em tom reprovador, os meus pais comentavam e eu cresci a pensar na tristeza que não seria uma família assim.
Mais tarde, comecei a assistir às tricas entre a minha sogra e a sogra dela, entre a minha sogra e a cunhada, o mesmo que dizer entre o meu sogro e a irmã.
Entre colegas, irmãos que não falavam com irmãos, pais que não falavam com filhos, filhos que não falavam com pais, pais separados que nem se quer se falavam, avós que não conheciam os netos...
Eu e R decidimos estar neutros, porque no meio dessas guerras, nenhum dos lados é inocente
E não é que agora, entre os meus pais e os meus tios está para o mesmo? Irmã com irmã e irmão com irmão! "Oh qui carago!". Tento manter-me de fora, mas outro dia mandei um coice, que pensei que desta ia passar a ser também pais contra filha mais velha.
Mas o que eu não posso admitir é que as minhas filhas andem a rolar pelo meio! Matem-se, esfolem-se, mas livrem-se de as usar para qualquer que seja o motivo da guerrilha.
O que me lixa no meio disto tudo, é que há uns anos, eramos todos uma família modelo, e quem vinha de fora e entrava na família admirava-se e gostava.
Agora, cada dia mais me parece tudo uma fachada, e desgosta-me um demembramento contínuo. Não bastava as voltas da vida, os casamentos distantes, as vistas só de fim de semana, agora são mais estas merdas, que mais dia menos dia hão-de sair do campo dos pais e passar para os filhos e primos.
Assusta-me ainda mais na medida em que eu já estou a acumular emoções e discursos, e no dia em que abrir a boca, tudo me vai sair sem pensar, e mesmo que todo o meu cérebro, todo o meu coração, todo o meu corpo, todos à minha volta diagam: Cala-te, é melhor deixar como está!" e eu vou falar, falar, falar, reclamar acusar, consciente de que estou a partir a louças e que talvez não seja possível compor todos os cacos. Mas parto na mesma.