Hoje o meu avô Zé faz 85 anos.
De duro e tirano passou a um velhote doente e indefeso, que admite às 4 bisnetas o que nunca admitiu aos 10 netos(as) e muito menos às 2 filhas.
Picuinhas, se lhe doi um dedo já está a morrer, diabético, insuficiente cardiaco e renal, e outras coisas mais, típicas da idade, saltita de casa de uma filha para casa de outra, quero dizer atravessa o carreiro do quintal, como se de 15 em 15 dias emigrasse para a Austrália.
Vive de rotinas e restrições, e um dia sem Orações, Terço no rádio e Preço Certo não é dia. Arrasta-se como um comboio a vapor, com suspiros e "ai jesus!" com sotaque do Norte.
Preconceituoso. Religioso. mais infeliz do que a conta porque nunca quiz , ou nunca conseguiu abrir os olhos para além do que umas linhas rigorosas que lhe traçam limites à esquerda e à direita. Mais à limitada à esquerda do que à direita, é certo, porque os de esquerda, ui "Balha-me Nossa Senhora!".
Foi agricultor, polícia, militar, segurança. Nunca chegou a rico.
A avó Tina morreu há 8 anos, e foi nesta data a enterrar. O oposto do marido, franzina, pequena, magrinha, encarquilhada, doente toda a vida, e no entanto, activa até ter ficado confinada ao sofá e à cama, no últimos anos de vida.
A avó Matilde morreu à 17 anos, o avô Quim há mais de 30.
Fica para outro dia falar mais sobre eles.