Ia para o trabalho e vi um edital de necrologia colado num poste. Espreitei, ontem não estava lá. Estava a chover, e à distância, de dentro do carro, li o nome. Assustei-me. A C. Morreu?
Telefonei à minha mãe, não sabia de nada mas foi saber. Telefonou a dizer que não era quem eu pensava, era uma velhota aqui da aldeia, que morava no fim da rua, duas ruas acima. Daquelas que se vêem no dia do bolinho ( pao por Deus) e pouco mais.
Suspirei de alívio. C é uma senhora solteira, doente há muitos anos. Super discreta e humilde. Auto suficiente até ficar doente. Cultivava os quintais, tinha criação, fazia farinha, cozia pão. Fazia bolos de festa( os do meu casamento também , aqueles bolos em ferradura que por aqui se ofereciam aos convidados, e dos quais ainda há dois na arca, ao fim de quase quinze anos). Costurava, cozinhava, limpava, dedicava-se à comunidade, aos doentes, à igreja.
Sempre tive a vontade de me sentar ao pé dela e pedir-lhe que me ensinasse tudo, desde o grão de milho e trigo por semear até à saída do forno de lenha.
Nunca o fiz. Por isso senti alívio, ainda tenho oportunidade. No entanto, bem me quer parecer que nunca o vou fazer. É amanhã pode ser tarde...