algo está errado...a culpa é sempre do mordomo ( as histórias nunca culpam o motorista)
algo está errado...a culpa é sempre do mordomo ( as histórias nunca culpam o motorista)
Hoje, comecei a sentir o meu corpo como normalmente, quase sem dores. Passaram 12 dias. Sei que há 10, chorava de dores e desespero. Sei que doía, lembro-me que doía, eu pedi analgésicos. E no entanto, em 10 dias esqueci completamente essa sensação de dor, nem consigo quantificar ou colocar numa escala. É estranho! Mas deve ser o que nos permite não nos extinguir-mos. E ainda bem. Faltam ultrapassar as dores no peito e as dores nas costas. As do peito, sei que vão passar...as das costas, bem, sempre posso esperar por um milagre, Mas depois do meu baby M, se calhar já era pedir muito!
Começo por dizer que conheço, concordo e partilho da opinião sobre os benefícios da amamentação. Entre eles, o factor económico, com o qual não poderia estar mais de acordo, se... Amamentar está a ser, pela 3ª vez, a opção mais difícil e dolorosa. Mas acredito nela, e mantenho-me decidida. Se com a R e I a questão era essencialmente a dor a que tive de resistir durante algumas semanas e as feridas, desta vez soma-se uma quantidade pequena e um garoto com fome e sem paciência ( e mau feitio). A lavagem cerebral a que somos ( fui) submetidas, faz-me pensar se a minha competência, apetência e bondade para ser mãe se fica por uma questão de mamas e leite. É que assim parece. Depois de comprados os cremes, os protectores, as conchas, os discos...a amamentação já perdeu um dos seus apregoados benefícios. Somemos mamilos de silicone, medicamentos para a subida do leite , bombas de extracção ( já tinha 2 que não funcionam bem, emprestaram-me outras, a uma das quais estou ligada quase 6 horas por dia), os acessórios...e pronto, o factor económico já era... Olhemos para essas quase 6 horas...lá se vai a liberdade, o estar sempre disponível, limpo, pronto a utilizar... Veja-se ainda as vezes que olho para o relógio, as duas vezes que o despertador toca entre a meia noite e as sete da manhã, e eu acordo com 40 a 50 minutos de antecedência para tirar leite a tempo da mamada do bebé ( 3 em 3 horas, por enquanto, e o puto tem despertador na barriga), e lá se vai o sem stress, confortavelmente, amorosamente...enquanto luto com o sono e dores de costas...a pensar que já passaram 40 minutos e ainda só tirei aquela dose mínima... Depois disto, só me sobra um argumento...deve mesmo ser Amor...
De há 6 dias para cá, o mundo passou a girar ao contrário. Tenho um menino lindo e saudável nas mãos, e uma responsabilidade que, por enquanto ainda me esmaga, mas que parece aliviar um pouco a cada dia que passa. É mais que tempo de fazer um reset e recomeçar com calma. Organizar o apartamento para mais um, redefinir lugares, tempos, prioridades. Destralhar. Já começamos, eu e o papá vaidoso, mas muito em câmara lenta, que a coisa ainda não dá para mais. Resta-me deixar uma certeza: o amor pelos filhos é o melhor analgésico. E o melhor indutor de esquecimento de todas as dores. Se assim não fosse, a espécie humana estava extinta...
Perguntei-lhe se podia acompanhar a sua mãe, minha sogra, ao médico, já que eu iria estar de soro no braço, numa cama de hospital com uma cesariana acabadinha de fazer na hora e data da consulta da senhora. Perguntei com mais de uma semana de antecedência. Perguntei depois de mais de um ano passado desde a última vez que lhe tinha pedido tal "favor". http://naprimeirapessoa.blogs.sapo.pt/150160.html Expliquei-lhe detalhadamente o porquê. Não me disse que estava cheia de trabalho, que era impossível ir porque estava na Cochichina. Tudo o que sei é que a esteticista espera por ela à mesma hora da outra vez...e isso é inadiável, pelos vistos. Assim de repente, apeteceu-me fazer queixinhas ao sogro, que está incapacitado para a levar, mas cuja cabeça ainda funciona muito bem. E ele saberia somar 2+2, como tem somado números muito maiores em tantas vezes anteriores, sem eu precisar de lhe contar o que quer que seja... A sogra, provavelmente daria razão à filha, que isto de esteticistas é coisa que não se deve descurar...e eu costumo fazê-lo muitas vezes, como ela já bem me avisou! A bem dizer, sempre, que não há cá orçamento para unhas de gel e gelinho e de mais não sei o quê, nem depilações de laser e luz e mais não sei quantos...e até mesmo pintar o cabelo é mesmo e só quando tem mesmo mesmo que ser e já não tenho coragem de olhar para o espelho... E pronto. Irá lá a empregada doméstica, ou o seu filhinho ( ainda que para isso tenha de perder as primeiras horas de vida do nosso bebé)
Conto os dias que faltam. Poucos. Sinto pressa, medo, entusiasmo, até saudades da gravidez, que vai ser a última. Esperei quase 5 anos...errado!,, muitos mais! Como se vê daqui a 5.10,15,20 anos, perguntou-me a psicóloga nos testes do 9 ano. E até aos meus 25 anos cumpri rigorosamente o plano que já vinha traçado. E aos 25 anos, redesenhámos o plano. Já não era só eu a ter voto na matéria. Ainda assim, no meu coração, marquei datas : 2001,2003,2005. E nomes: Alexandre, Rita, Inês, Lara, Miguel, Ricardo, Tomás...tudo anotado em caderninhos e vontades. Mas até os melhores planos falham. 2001 foi em 2003, 2003 foi em 2005, 2005 atrasou-se indefinidamente, 2009 deu-nos coragem, os anos seguintes tiraram-na, e agora estamos em 2014, com um sorriso pateta na cara e um coração aberto, mas acagaçados com os dias que hão-de vir. De Março para cá os dias passaram, uns dias a galope, outros teimosamente de pé fincado no chão. Olho vaidosa para a barriga, lisa, redondilha, sem estrias nem manchas. Finjo que não vejo o estado lastimoso das varizes nas pernas. Tento imaginar quantos kg poderei perder depois do bebé nascer: afinal mereço, se não engordei nada! Nas consultas assisti ao ar incrédulo das médicas, de como tudo parece correr bem de mais para ser verdade com uma grávida obesa e da 3idade... Tensão óptima, peso controlado, bebé activo, até os resultados das séries de medições que faço devidas à diabetes gestacional estão razoavelmente bons! Ao lado, nos bancos da sala de espera, no meio de tantas grávidas radiantes, outras tantas com dores, internamentos, sustos e acidentes, e até mesmo mães contrariadas.. Estar grávida ( independente do que às vezes me dói, e que até nem é nada de anormal para o estado em questão) foi, pela 3vez, uma alegria, um estado muito feliz e saudável do meu corpo, e nem sempre correndo bem ( tenho um corpo muito egoísta e possessivo, que primeiro recusa ter bebês cá dentro, mas depois se recusa a deixá-los sair...) parece que a minha barriga foi talhada para isto. Depois dos 25 anos, foram as únicas vezes que olhei para ela sem ressentimentos, e mesmo grande e redonda, me pareceu linda e elegante. Vou sentir falta deste mimo, desta pequena dose de autoestima. Isto, se daqui a 4 dias continuar a ter tempo para pensar em o que é que seja sobre mim...