Primeiro atiram a bomba de fumo dos salários e contratos colectivos. A multidão entra em pânico, desorienta-se, reclama, e espera...
Depois recuam.
Nos próximos dias, a bomba que se segue será de estilhaços...
E depois dizem que não têm culpa, que deram uma boa hipótese, que vocês é que não quiseram...
É o padrão, o modo de operação dos últimos anos...
Enquanto isso, inflamam-se os ânimos, extremam-se posições, e tudo parte para uma base de inegociabilidade...
Eu, que nem percebo nada disto, e que já fui empregada, e que agora sou uma patroa de insucesso, tenho sérias dúvidas...
porque se calhar já era tempo de...
- fazer desaparecer "500 mil" acordos de contrato, e fazer "50" acordos mais justos, adequados a determinadas áreas de actividade, industria e serviços
-fazer desaparecer "200" parcelas suplementares de subsídio de corte de cabelo, de engraxar sapatos, de vir hoje, de não vir amanhã, de acordar bem ou mal disposto, de apoio à prima e à amante...e passar a ter um valor justo de rendimento de trabalho por cada hora de trabalho, adequado às possibilidades das empresas e às necessidades efectivas do custo de vida em Portugal ( e ao custo da morte, do nascer, do educar, do comer, do sobrar qualquer coisa ao fim do mês, já agora,do ficar cá a aturar esta cambada)
-os impostos e contribuições do trabalho deixarem de penalizar empregadores e empregados, não deixando grandes opções que não a fuga aos mesmos...que a mim ninguém me tira da cabeça que os salários não aumentam não é por causa de produtividades, ou troikas, ou o raio que os parta, mas sim por causa da % que o Estado ganha por cada hora que alguém trabalha
-fazer desaparecer "2 000" tabelas salariais, "6000" regras de evoluções e posições remuneratórias, porque na hora de comer, ninguém é suposto ter uma fome maior que o outro... funções idênticas, salários idênticos, num intervalo de diferencial de remunerações relativamente pequeno, porque não há trabalhos tão mais dignos, tão mais meritórios que justifiquem diferencias de base que multiplicam por várias vezes os salários mais baixos, que empurram para esses trabalhos os mais excluídos e desclassificados ( e cada vez mais os que se qualificaram), e estigmatizam a natureza dos trabalhos. A evolução lógica é a da competência, revista por uma avaliação justa e regrada, e pelo julgamento que deve ser isento e sincero da parte de quem paga.
- tornar únicas as regras que definem férias, feriados, tempos extra de trabalho, pensões,condições de reforma, assistências na doença, à família, ao ensino e formação,à maternidade/paternidade, ao trabalho parcial, ao desemprego...para ver se deixamos de ser a república das bananas , e passamos a ser um País
e antes de me chamarem "coisas", só mais 2 ou t3 coisinhas , ou 4 ou 5:
- sei o que é estar do lado de "empregado", e o que é estar do lado de "patrão". Se o primeiro não é fácil, garanto que o segundo não é melhor. Porque nem todos os patrões são desonestos e ser patrão não é sinónimo imediato de explorar os funcionários e viver ricamente às suas custas. Convido até, a quem generaliza indiscriminadamente isto, que se chegue à frente, dê o exemplo, se torne um patrão próspero de uma empresa empregadora de trabalhadores felizes e bem reconhecidos. E me aceite como feliz empregada
- na parede do tribunal de Leiria, entre erros e outros graffittis, aparece esta frase, na qual penso muitas vezes " A maior cobardia é saber que é justo, e não o fazer". ( aplicarei aqui, indistintamente, a ambos os "lados")
- outra frase que me guia, também é fácil de perceber " quem não faz parte da solução, faz parte do problema" ( mais uma vez aplicarei indistintamente). Também podia dizer " quem não chora, não mama...", mas se sei o que é ser mãe chantageada pelo choro de bebés que já nascem com manha...quanto mais ser-se pai e mãe de sabidões que fazem do choro o modo de vida...( aplicarei aqui, mais uma vez, indistintamente, a ambos os "lados")
- nem tudo o que compramos ( ou ADQUIRIMOS) é para o resto da vida, é às vezes é preciso perceber que a vida útil da coisa acabou, e que temos de pensar em substituir por algo melhor, ou mais evoluído, ou mais JUSTO, e que isto não significa obrigatoriamente PERDER. Quem diz coisas, pode estar a dizer direitos, ou pseudo direitos ...se fossem DIREITOS eram iguais para todos...mas lá está, aqui neste rectângulo, somos todos supostamente iguais, mas há uns mais iguais que outros, e aos que choram, berram, gritam aos trinta farrapos, que "tá mal", "tamos a ser róbados", isto parece não fazer a menor diferença, "ku mal dosoutros pósseu bem"
Pronto, já podem bater na gorda.