Eu quero deixar crescer as unhas, que normalmente não passam a frente da ponta dos dedos, cortadinhas mesmo à medida e contorno do dedo.

Mas quero, e tento. Ainda não passaram 1 milímetro à frente do dedo, e já me atrapalham em tudo: ontem a costurar, hoje no computador.

O próximo passo é partirem-se, depois corto uma, corto todas, e volto a ter unhas pequeninas, por pintar.

Se conseguir saltar este passo, o mais certo é  rasgar. rasgar até à carne, provavelmente na maçaneta da porta do carro. Um sítio onde isso acontece milhentas vezes. E aí vai doer a sério, e eu vou cortar, cortar, cortar...

E pronto, queria ter unhas de senhora daqui a 15 dias, e vou apenas ter unhas de menina, cortadinhas como eu faço às minhas filhas.

Depois do final de tarde exaltado, algo me diz que vou ter uma semana que vem inesquecível...

Aguardo que as consequências do que não fui eu que fiz me venham cair em cima...está mais que visto que vai sobrar para mim.

Para eu resolver a cagada do senhor que destranca a mola e barafusta com todos, sem saber se parte cabeças, corações ou ossos.

Previsões: 

- uma sogra com ansiedade, demência a agravar, pensamentos suícidas e fanicos

- um sogro com insónias, ataques de ansiedade e coração aos pulos. Um acidente causado pela tentativa de mostrar que ainda consegue fazer o que de facto não consegue, não pode e nem deve

- um marido com azias, dores no peito e mau feitio

- eu, de bombeira de serviço...

Voltámos às consultas , aos exames, às análises, aos comprimidos.

Às dores barriga, ao rubor nas faces, ao vexame desconforto de ser examinada e examinada, e espreitada, e analisada, sem poder expressar um chega, um estou farta de abrir as pernas para espreitarem não sei o quê!Voltamos às ecografias, aos espermogramas. Aos quilómetros e quilómetros nos dias certos, nas horas exactas, desta vez para Coimbra, e não Lisboa.

Para, dentro de um mês, ter o veredicto. Se aos 38 anos, ainda posso ou não tentar ter outro filho/a.

Para saber se desisto ou não. ( Porque não terei outras hipóteses).

Só espero que a conta seja bem menor.

Arrepiou-me ver as listas para consultas, só desta vez contei mais de 20 nomes para o mesmo dia, e os tantos casais que esperavam na sala de espera, e eram chamados para exames, consultas, quase todos com um ar ansioso e assustado. E uma senhora a chegar à sla e anunciar que tinha ouvido o coração a bater.

Tanta mulher de olhar vidrado, tanto homem a dar a mão, ou à espera, a olhar para um dia qualquer que não aquele.

Agradeci, no meu coração, a mão que apertava a minha, e a dignidade com que as senhoras do atendimento e o médico atendiam, a prestabilidade, a educação.

Até dia 31 do mês que vêm tenho de lá voltar 3 vezes. Depois saberei o que me espera.

Tenho borboletas desde a boca ao duodeno

Assombração do dia 1:

Uma mulher, durante 45 minutos, não se calou a falar da sua morte e ressurreição no hospital, e de os bombeiros andarem a a fazer corridas de mortos na "morguem"...e o S.Pedro, e a Bíblia e o padre e o pastor, e eu vi a luz, e do outro lado está-se bem melhor...

assombração do dia 2:

Um homem, com um ar de agarradinho subia a rua com um pacote de leite aberto na mão. Vira-se para mim e pergunta se preciso de comida, ao que eu respondo, obrigada, mas não. Pergunta-me então se eu era de "cá", eu disse que sim, e ele volta costas a dizer que a carne está a estragar-se mas que eu sou de " cá" por isso não preciso.

Mas também, vindo daquele sujeito, precisava de estar muito desesperada para aceitar

eu a ler uma revista de vinhos e a pensar: mas o que será isto que o enólogo está a dizer?

Não bebo vinho, mas também não sei se queria beber coisas que se descrevem assim:

Espuma liderante
Final sucroso
Leve frisante
Pêssego entre pomar
Lote com avesso (????)
Superior à mesa
Arqueado
Fruta achocolatada ( é frutóxiclate!!!)
Leve nota de tosta especiada ( ?????)
Redondo 
LEVE NOTA VEGETAL COMO TOMATEIRO ( mas é vinho ou ketchup?)
Violetas, bananas, cacau resina de pinhal, ameixa, menta, laranja confit, pelo, fumo e tabaco (????)
acidez forasteira
terroso, terra fumada
mastigável
madeira doce
sabe a xisto
sabe a esteva

Começou a escola, a rotina, as preocupações e outras coisas mais. As reuniões da escola, da associação de pais, do conselho de escolas, do conselho de turma...

Gosto de escola, gosto do conceito de aprender, e do lema do agrupamento das miúdas : "aprender a ser, e ser com saber"

Gosto que aprendam as disciplinas base, todas as outras disciplinas, as "expressões".

Mas gostava ainda mais que :

Português fosse cada vez mais leitura por gosto, interpretação e produção de textos lúdicos ou informativos. Prepara a garotada para ler, saber ler, perceber o que lê, e expressar-se por escrito, em prosa, em poesia, num texto literário ou informativo. Afligem-me a gramática e as figuras de estilo levadas ao extremo, a a pergunta estúpida: " em que é que o autor estava a pensar quando escreveu "verde" ou "partiste" ou qualquer palavra lá encaixada na métrica contadinha de um verso qualquer...

Matemática, física, química, fossem a abordagem prática dos problemas do dia a dia, uma ferramenta poderosa, a linguagem para simplificar muito dos fenómenos que nos rodeiam

História, Ciências e Geografia, Filosofia os ensinassem a conhecer as realidades do passado e do presente, o mundo físico e social, para poderem começar a pensar sobre a gestão de um futuro, aprendendo com os erros e lições do passado

Inglês ( ou francês, ou outra língua qualquer)fosse uma festa, uma abertura ao mundo e todas as suas possibilidades

Educação visual e tecnológica ou expressão musical fosse a criação de oportunidades de expressar não só a veia artística ( escusam de vir cá dizer que mijar num monte de papeis é arte...), mas também o conhecimento dos rudimentos da criação e execução de tanto trabalhos. Pensar no que se vai fazer, e levo-lo a cabo. Conhecer técnicas e materiais, e pensar no que se pode fazer melhor ou mais inovador.

Educação física fosse levada tão a sério como qualquer, como expressão dos limites de cada um, compromisso com esforço na obtenção de resultados.

Gostava. E vou tentar que as minhas filhas conheçam o que penso, e talvez possam um dia formar uma opinião coerente, quem sabe até mais válida que a minha, baseada em tudo o que a escola tem para lhes oferecer e que elas decidiram aceitar de braços e espírito aberto

à hora do almoço, no hospital, uma mãe mandava calar a sua filha adolescente, e dizia a moça:

- não me calo! então mandam-me vir aqui, espero quase 2 horas e depois é só olá, bom dia, tá tudo bem podes ir?!! Se ao menos a consulta tivesse sido à hora marcada, ainda me calava, mas depois de duas horas queres o quê?

Apeteceu-me bater palmas.

Ultimamente, tenho passado muitas horas na sala de espera. Levo uns livros, mas consigo aperceber-me de muita coisa:

- que se não fossem os voluntários a fazer o acolhimento nas consultas externas, era o caos para a maioria dos utentes
- que se não fossem os voluntários a indicar o caminho das consultas externas, era o caos para a maioria dos utentes

( ora isto não justificava empregos remunerados a tempo inteiro? os voluntários velhotes são simpáticos, muito prestáveis, mas estão a fazer um trabalho necessário, e há muita gente há espera de emprego)

- que há 8 balcões de atendimento, mas só 2, 3 ou 4 senhoras atrás dos balcões, e nem todas sorriem ao utente.

- que o sistema de senhas é útil, mas por não serem diferenciadas por serviço, há muita confusão entre os utentes, porque o atendimento acaba por não ser sequencial. Depois há serviços a chamar por senhas, outros a chamar pelo nome...e pessoas que não ouvem ou não percebem e ficam esquecidas nas cadeiras até não sobrar ninguém

- que as consultas atrasam, e atrasam, e atrasam...e já cheguei a assistir a uma sala cheia de gente admitida para a consulta com um médico que estava de férias, mas ninguém foi avisado. Quando se soube, foi a guerra, mudaram consultas, chamaram outro médico, e entretanto começo ver senhoras a sair do gabinete dele a chorar e a gritar: estava chateado e berrava com todas, saíam do gabinete a chorar e uma até teve um fanico na sala de espera.

- que há pessoas à espera de consultas que não chegam, e pessoas que são chamadas para consultas de que não estavam à espera.

Na generalidade, até tenho verificado prestabilidade e bom serviço na maioria dos funcionários, valha-nos isso, mas ainda há tanta coisa que pode ser melhorada!

Eu sou a demonstração das leis de murphy.

c.q.d., era o que tinha de escrever nas demonstrações matemáticas do secundário e universidade.

Hoje comecei um luto. Ao fim de 10 anos e 2 bebés, desmontei o berço. Já não dorme lá nenhum bebé há uns 6 anos.

A banheira ainda está montada na casa de banho, na cozinha ainda há um armário de biberões, tacinhas, esterilizador, termos e outro equipamento afim.

Ainda não tive ânimo para retirar tudo, apesar de cada dia ser preciso mais espaço e a casa não ter crescido. Porque sempre acreditei na vinda de outro bebé

A médica acha que sou maluca, mas a o fim de 4 anos de insistência, mandou-me para uma consulta de infertilidade nos HUC. É óbvio que me vão mandar embora! JÁ TENHO 2 FILHAS, ESTOU COM 38 ANOS, E TENHO DIVERSOS PROBLEMAS DE ENDOCRINOLOGIA!!

Ainda assim, não deixo morrer a esperança. No meio da estupidez, esqueço o meu pragmatismo e penso: agora que desmontei as coisas, era giro ficar grávida, só para a vida gozar comigo mais um pouquinho...mas desta vez era eu a gozar com ela e a rir-me nas suas costas!