Um dos meus defeitos, ou assim me dizem, é, muitas vezes preocupar-me com as coisas com demasiada antecedência.
Passei uma adolescência com dores de barriga, uma tortura quer em dias de exame, quer em dias de festa, tudo era um bom motivo para ser acometida de ansiedades e dores. ( eram os dias de magreza e elegância, quando nada me parava no estômago)
Felizmente, consegui ultrapassar isto, e com o tempo, consegui antever, antecipar e controlar estes pânicos que se instalam, sejam para um trabalho ou reunião importante, ou para um acontecimento inusitado na vida , e sei que, em algumas horas passa. Sei, porque já os vi muitas vezes, sei o antes, o durante e o depois, e aprendi a não deixar que condicionem a minha vida. Sem que a maior parte das pessoas que me rodeia, especialmente em contexto de trabalho sequer se apercebam ( são agora os dias em que me entram mais coisas no estômago do que as devidas)
Suponho que alguém me herdou esta característica, e tenho uma pré adolescente assim, mas num nível que me está a preocupar.
Assumindo que ansiolíticos não são a minha primeira opção, aponto baterias aos livros. A 4ª classe foi uma dor de barriga constante, apesar dos bons resultados escolares. O 5º ano aparece-lhe à frente como a mais alta das montanhas. Um passeio, uma saída, uma aula são uma porta para o escuro.
Hoje apresentei-lhe Mariana, irmã da Rosa, amiga da Rita.
Para um ensaio geral da adolescência de uma menina. Para que ela saiba que existem outras meninas, ainda que de fantasia, que também vivem sentimentos como os dela. Porque os ensaios servem para alguma coisa, certo?
Li com ela, durante quase uma hora, depois de lhe apresentar a minha mais preciosa colecção de livros : os livros de Enid Blyton e da Alice Vieira, as colecções da Patrícia, Ana, Susana,Cláudia, Nancy e Carlota, As aventuras, os clubes, os Grimm, os Perrault, os Júlios Vernes e as Sophias, o Adrian Mole, as BDs do Danny Doodle, do Agente 327 e Johnny Goodbye, o Afonsarilho, o Avôzinho, no meio de tantos outros, nas prateleiras do meu quarto de solteira.
Espero mesmo que resulte, porque já passei a fase do " já não tenho paciência para essas pieguices", e quebrei, estou na fase " doi-me o coração de a ver a anular-se e desejar ser transparente".