Os laços apertam-nos, ainda antes de nascermos e ainda antes de nascerem de nós.
Por isso, os filhos , as mães e ospais conhecem-se e amam-se, desde as primeiras e mais tenras horas de vida, que podem ainda ser apenas de desejo e pensamento, ou a mais básica divisão celular. Pelo menos eu assim o vejo, e sinto.E lamento pelos que não o sentem, e mais ainda pelos que não são enlaçados desde o primeiro segundo do seu ser..
Quando a família cresce, pelos designíos de uma união ou de um casamento, ou pela alegria de uma amizade ( sim, os amigos são minha família, também, e muitas vezes ainda mais próxima), são molinhas de pressão que vamos fechando, " ticas", como continuam as filhotas a dizer, e há mais gente que está unida a nós, que nos faz mais ou menos feliz, mas que partilha a nossa vida.
Quando ganhamos asas, e somos inseridos numa comunidade, é importante que , de novo, criemos um emaranhado de relações, emoções, e nos fixemos a quem nos possa transmitir valores, e a quem os possamos transmitir.
Estou amarrada, entrelaçada, fixada a uma teia dessas.
Só quando o homem deixou de ser tão nómada e se sedentarizou um pouco mais é que foi possível desenvolver comunidades e culturas marcantes. Foi aí que se organizou, e pode começar a responder mais eficazmente às necessidades do seu próximo.
Nos dias de hoje, é nos imposta a flexibilidade, a disponibilidade, a itinerância, como sendo solução para uma série de males que assolam as pessoas.
Pois, para mim, é exactamente no oposto que devemos procurar a solução.
Numa vida comunitária de proximidade, de fortes laços familiares, intergeracionais e de vizinhança, estamos mais alertas para quem nos rodeia, masi disponíveis para os carenciados, e seguros de um apoio por parte dos outros.
Há quem defenda que mudar de escola, de terra, de país, é uma oportunidade de crescimento, e , de facto, a maioria das pessoas consegue readaptar-se, e possivelmente, crescer.
Mas, para trás, ficaram familiares e amigos, dos quais se vai perdendo a vinculação, até ao limite de um dia poderem precisar de nós, e nós dizermos que não há nada que possamos fazer, porque estamos longe, porque já não sabemos onde se arruma o açucar em casa da mãe, e nem sequer nos sentirmos responsáveis.
Toda minha infância e juventude foram pautados por uma estranha ( de rara, leia-se), coesão familiar, que pelas razões mais díspares, tem tendância a se ir dissolvendo, com pena minha.
Prezo os laços em que as minhas filhas se suportam, e os que foram criando com a comunidade onde estão inseridas.
E, como uma nuvem negra, começa a pairar sobre nós a eventualidade de termos de descerrar o velcro, e abrir molas.
Ficaremos seguros pelos laços.