Sobre mim e outras coisas, irreais, ou nem por isso...

08
Mar 12

Todos os dias há noticias destas, e os comentários mais absurdos.


Todos são metidos no mesmo saco, e todos passam a ser meninos riquinhos que se endividaram demais e que agora estão a pagar por isso. Comentários de dor de cor e dor de cotovelo.


Há quem tenha abusado no crédito? há sim senhora. Todos? Talvez não.


Uma boa regra que se ouvia sempre dizer, é que os empréstimos não deviam superar 30 a 40% do rendimento disponível.

 
Muito bem. Vamos então supor que um casal, onde ambos trabalham e têm um salário idêntico, contraem créditos na ordem dos 20% do seu ordenado conjunto. Em poucos anos, com o agravar de taxas e juros, esse crédito já irá nos 30%, mas não os seus rendimentos.
E no entanto, continuam a ter uma conduta irrepreensível na gestão dos créditos. Um dia, um deles perde o emprego, mas tem subsídio. Temporariamente, o crédito passa para 50 a 60% do valor disponível. E foi culpa do endividamento maciço?


Não, porque cumpriram todas as regras e a boa gestão. Mas um dia acaba-se o subsídio, e o crédito passa a comer 60 a 70% do rendimento....

 

O que é que as pessoas comuns, que há meia dúzia de anos tinham expectativas de vida podem fazer?
E perdendo o 2º emprego? Continuam culpadas do incumprimento?

 

O primeiro cego é o estado, que deve às empresas, mas que não as poupa. Não vê, não quer ver, nem quer saber.
Depois os bancos/ credores, que tomam a mesma atitude, alteram unilateralmente os contratos, as avaliações e não se compadecem com as razões de cada um.

 

 

E por fim, todos nós, que continuamos a ter muita pena de quem hoje está mal, mas não nos poupamos de continuar a mandar pedradas de inveja. Parece que, ter tido ou tentado ter mais conforto ou mais qualidade de vida, é um crime, como se quem o fez o tenha feito de forma ilegal.

 

 

Ilegal devia ser a falta de expectativas e de confiança no futuro. Algo que há 10 anos não me faltava, e que hoje busco sem parar.

 

Aos que abusaram, paciência. Aos outros,  força e imaginação. É o que me calha, a mim, também.

 

Nota: há 12, há 10, há 8, há 6 anos, a nossa vida era muito razoável. Tinhamos ordenados razoáveis, e créditos controlados, na ordem dos 15% do nosso rendimento. Hoje, esses mesmos créditos comem 60% do dinheiro que entra em casa. Porque os créditos subiram, e os ordenados passaram a menos de metade. E depois, há que deixar para as contas obrigatórias. Sim, mudámos de carros o ano passado, um que foi logo para abate, de velho, e outro, de 11 anos, que serviu de troca pelo modelo mais modesto de um ford fiesta. Foram comprados com as poupanças. que fizemos ao longo de 11 anos. Não há outros créditos, de consumos, de viagens, de nada.

Moramos num pequeno T3, que já devia ter sido rifado há 6 anos...mas continua a ser a nossa casa, e só esperanos que se mantenha assim, tão bom e quase sem manutenção durante os próximos 67 mil€ que nos faltam pagar.

A vida mudou, e muitas coisas nos passaram a estar vedadas: os meus livros, que há muito deixei de comprar, alguém que me passe a ferro e limpe a casa ( mantemos 4h de empregada, de 15 em 15 dias, 40€ por mês), não há cá modas, nem saldos, nem nada. O supermercado reduziu para cerca de 1/3 do que costumávamos. Acabou-se o peixinho dia sim dia não, o meu ovomaltine. Tudo é do mais barato, do mais económico e só se estiver na lista. Tudo se conta, tudo se pesa. Ficam amigos por visitar, nas contas do gasóleo.

E, de tudo o que já não sobra, ainda se arranja maneira de tirar para ajudar a pagar preuízos da empresa, oferecer uma prenda a alguém.

 

Faltam-me os passeios e viagens que não fiz, mas contava um dia fazer. As compras e mimos que fazia, a mim, ao marido, às filhas, à família, aos amigos, que fazia, mas que há muito deixei de fazer... Falta-me um almoço ou jantar num restaurante, melhor que uma esporádica ida a um Mac donalds de 13,75 € para 4.

 

Falta-me a vida que já tive e perdi. mas não me envergonho.

 

 

 

 


 

publicado por na primeira pessoa do singular às 11:45

Enquanto os outros choravam, coloquei as minhas emoções nas mãos , e cozinhei comida de conforto para toda a família.

 

E ficou tudo muito bom.

Em homenagem ao avô Zé.

publicado por na primeira pessoa do singular às 11:42

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