Sobre mim e outras coisas, irreais, ou nem por isso...

18
Mai 16


Andei a pensar nisto, mas durante uns dias não me quiz meter no assunto. Mas depois perguntaram com todas as letras , e aqui vai o que me vai passando pela cabeça sobre os contratos de associação com escolas particulares.


 


Comecemos pelos factos que conheço:


 


- só sei que nada sei, na medida em que as minhas filhas frequentam a escola pública. à qual, teoricamente é atribuída uma verba por aluno. E têm de se virar com isso e com o mais que consigam arranjar.



- em CENTENAS de escolas e colégios particulares que existem em Portugal , apenas 79 estão abrangidas por esse tipo de contrato.



- dessas 79, à partida, 40 mantém essa situação porque são mesmo necessárias, não há alternativa, ou transporte ou oferta educativa suficiente na zona. Por todos os motivos e mais alguns que tenham sido definidos.



- as restantes 39 continuam a funcionar, ainda que eventualmente sujeitas a alterações.



- os colégios paticulares que cobram valores, digamos ELEVADOS, de propina, ou o que lhe queiram chamar, são legais, existem e estão-se a marimbar, mais concretamente a cagar, para tais contratos de associação. São frequentados por quem quer e está disposto a pagar e é admitido. Todos sabem a regra do jogo. Por algum motivo, seja a qualidade, a fama, a localização, o ambiente, o elitismo, o factor c...seja o que for, se há pais que os preferem e pagam, tudo vai continuar na mesma.



- há zonas do pais onde as escolas públicas não chegam para as encomendas. E como tal, havendo escolas particulares nas redondezas, foram feitos contratos para assegurar que todos tinham acesso ao ensino. E quem já lá estava e deixou de pagar não se manifestou na altura a dizer: ai que eu gosto tanto de pagar e agora já não posso.



- a verba atribuída a essas escolas está estipulada. O que fazem com ela não sei. Mas há notícias de grandes negócios lucrativos, tal como há notícas de escolas que os aproveitam tão bem que, de facto, conseguem ter um ambiente e rendimento escolar acima da média, com actividades e ofertas que cativam pais e alunos. Outros nem por isso.



- de igual modo, nas escolas públicas, ambém há resultados extraordinários com grandes verbas, com pequnas verbas e vice versa.



- há professores a serem esfolados vivos em algumas escolas, outros esfolados vivos por falta de escola. há professores a dar o litro, e professores a beberem o litro que os outros dão. Há professores a trabalhar muitas horas, poucas horas e apenas as horas estritamente necessárias para parecer que vão lá fazer alguma coisa. Há professores que não têm nada garantido, e há professores a gozar do estado " tássebem".


 


Outras coisas que eu conheço:


 


- há 35 anos ou mais, andei num infantário a pagar. Não havia sequer opções. Tenho fabulosas recordações e a ideia que o trabalho desenvolvido era extraordinário, no final dos anos 70. A irmã nº2 também andou lá, a nº3 nunca pôs os pés num infantário e o nº 4 andou num público. "tudo o que é preciso na vida, aprende-se no infantário", já dizia o sr Robert Fulghum. E eu concordo. Mas também é possível aprender isso em casa e na escola pública. Se não , confiram o que diz o senhor: "



Grande parte das coisas que preciso de saber sobre a vida, sobre o que fazer e como ser, aprendi no jardim de infância...


 


A sabedoria, afinal, não estava no topo de uma montanha chamada Universidade mas sim na caixa de areia da minha escola.


 


Eis as coisas que aprendi:



A compartilhar... a não fazer batota... a não magoar os outros... a arrumar o que desarrumei... e a limpar o que sujei.



A não tirar o que não me pertence, a pedir desculpa quando magoo alguém.



A lavar as mãos antes de comer. A puxar o autoclismo.



Aprendi que o leite faz bem à saúde. Aprendi a aprender, a pensar e também que desenhar, pintar, cantar e dançar era bom... a dormir a sesta... a ter cuidado com o trânsito... a dar a mão, a ser solidário.



Vi a semente a crescer no copo de plástico; as raízes descem e a planta, sobe embora não saiba porquê, gosta-se.



Os peixes dourados, os hamsters, os ratinhos brancos... (e mesmo a planta no copo de plástico) morrem. Nós também.



E lembro-me dos primeiros livros, da primeira palavra que aprendi: vê! É isso que tenho feito sempre.



Se todos - em todo o mundo - tivessem tomado um copo de leite às quatro da tarde, depois de terem dormido a sesta, o mundo estaria bem melhor.



Ou se houvesse uma política de base no nosso país - e em todos os outros - de devolver o que não é nosso e de limpar o que sujamos.



E também sei que é verdade, que ainda é verdade, que no mundo o melhor é dar as mãos... e ficarmos juntos.


 


ROBERT FULGHUM - "Tudo o que eu devia saber na vida aprendi no Jardim-de-Infância"



Ideias incomuns sobre coisas banais, Editora Best Seller, 3ª Edição, 1986, 1988 "


 


- Depois andei numa primária pública, onde a professora Dila fez uma trabalho fabuloso em termos de ensino e motivação ( bem, o factor motivação através da régua não era tão fabuloso assim, mas funcionava muito bem, quase tão bem como os cromos e figurinhas com que premiava os nossos bons resultados. A nº 2 e nº 3 fizeram a primária na pública, o nº 4 passou para uma escola particular ao fim de um tempo, a pagar, porque ele não teve uma professora Dila, ou Amélia...



- Do 5º ao 9º ano andei num colégio, a pagar. Foram dias muito bons, dos quais guardo gratas memórias e alguns amigos para a vida. Tinha regras. Tinha sala Miguel Angelo para estudarmos quando algum professor faltava. Tinha professores a substituir professores, tinha árvores, tinha terra, tinha jogo do berlindo, do mndo, matraquilhos. Tinha o padre. Tinha bons professores. Tinha oficinas, laboratório, anfiteatro, biblioteca, ginásio. Uns balneários rafeiros.Tinha a senhora que alternava entre bar, cantina e papelaria.. Não eram precisas 3 senhoras. Tinha 1 faz tudo/guarda assustador. Tinha 2 funcionárias administrativas. Tinha 1 contínuo bacana. Tinha 1 senhora da limpeza. E garotada do Infantário ao 9ºano. E festas, actividades, excursões..Hoje, essa escola já não existe. No mesmo espaço funciona um colégio particular, a pagar,com alguma reputação.A nº2 andou lá, a nº 3 e o nº 4 andaram noutro, com contrato de associação, bem maior, onde o padre era substituído por freiras, mas onde me parece que a nº 3 e nº 4 foram felizes e tiveram uma boa educação escolar e cívica.


 


-do 9 ano em diante, até completar a universidade, frequentámos todos escolas públicas e universidades públicas. Com óptimos professores, bons professores, maus professores e nulidades de professores. E cá estamos todos. Ainda não fomos presos, acho que somos razoavelmente boas pessoas, e não foi preciso nem cunhas nem favores para as notas que tivemos e trabalhos que exercemos.


 


Coisas que entretanto sucederam:


 


- tive filhos. Em 2006, 2009 (e eventualmente 2017), o JI público, a EB1 pública, a EB2 pública foram a solução óbvia. Não temos orçamento para escolas particulares. Não conhecemos outras que sejam assim tão melhores que compense pagar, aqui nas redondezas. E porque confiámos no projecto educativo. MAS a partir de 2006, o meu dia a dia compreende um acompanhamento activo e rigoroso a tudo o que se passa. Há um esforço para colaborar, ajudar, dar opinião, apontar soluções para coisas que funcionam menos bem. Angariar fundos para tapar buracos.



- nestas fases todas encontrei profissionais muito bons, bons, médios e assim-assim, para não dizer outra coisa. Não deixei de manifestar agradecimento ou desagrado aos próprios, conforme a situação, nem nos orgãos escolares próprios. ( dou a cara, o corpo, e tenho as costas largas...não tenho medo do confronto, se ele for verdadeiro).



- quando achei que a escola pública era pouco, ropús actividades, pouco onerosas em recursos físicos, mas que requeriam algum esforço e bom vontade de recursos humanos. Da reunião que tivemos, guardo duas respostas no meu coração:


 


1- PROF : Isso é tudo muito bom, eu concordo, dá muito trabalho, e para ter isso eu tenho a minha filha numa escola a pagar.



2.MÃE : se tu queres dar cultura geral aos teus filhos, isso é contigo, eu acho que não tenho de dar ao meu.


 


- posto isto, continuo na minha, apostada em contribuir activamente para a qualidade da escola pública, tal como uma série de pais activamente empenhados em que isso possa acontecer.


 


- acresce ainda que eu não vejo como factor fundamental para o sucesso uma escola super equipada e artilhada de condições físicas. Já super artilhada de pessoas humanas, profissionais, competentes e empenhadas, é, para mim, a condição preponderante.



- não sonho com uma escola de elites, cheios de meninos de famílias de "bem". Mas acredito que tanto "os meninos bem", como os "filhos da ralé", devem ter acesso igual a todas as oportunidades possíveis. Todos podem ser bons ou melhores, independente da sua origem, estado, situação económica, desde que sujeitos a um apoio justo, que pode querer dizer que preciso de mais outros de menos apoio para se obterem resultados igualmente bons.


 


Coisas que eu não sei bem, nem tenho a certeza:



- não sei bem ao certo quanto ganham uns professores e outros, incluindo os que dão o litro como os que estão à sombra da bananeira.



- não sei bem quanto custa um aluno na escola pública ou na privada ou no regime de associação.



- não sei bem como o dinheiro e gasto, e se sobra a alguns, como é que falta a outros.


 


Assim:



- continuo a preferir a escola pública, desde que empenhada nos melhores resultados em formar cidadãos úteis, independente da nota ou lugar no rankng



- continuo a achar que mega-escolas não são a solução, e que a dimensão das escolas deve ser proporcional à idade e desenvolvimento das crianças



- concordo que se mantenha o apoio às escolas que tenham ofertas de ensino necessárias e complementares às do sistema público existente.



- concordo que se retirem apoios a escolas com valências redundantes.



- desejo que a escola possa ser um local de bom acolhimento de todas as realidades, e mantenha uma estreita parceria com os pais e entidades locais.



- que os profissionais possam ser distinguidos ou penalizados em função do trabalho desenvolvido



- acho que se um pai fizer mesmo muita questão de manter o filho numa escola que deixou de ter apoios, deve ver o que é preciso fazer para o manter lá, e isso passará eventualmente para o manter num projecto educativo que considera melhor, com mais valias e pelo qual está disposto a pagar.



- concordo que se verifique, de facto, quais os montantes necessários para manter a escola pública e dar-lhe condições de melhoria, ou de manter e garantir o funcionamento das escolas com contrato efectivamente necessárias.


 


Bravo!!! chegaram ao fim!


publicado por na primeira pessoa do singular às 11:55

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